quarta-feira, 11 de março de 2015









mariam sitchinava












Seguramos o fósforo, e o infinito cresce
entre os astros pacientes, invisíveis, a
mancha do electrão por sobre a chapa.
Não conhecemos deus, a inexistência. Não
procuramos, alta, a vibração
do tempo. Seguramos o fósforo
e a luz é frágil, parca,
necessária.

antónio franco alexandre









ficamos horas a apanhar girinos. ao fim da tarde regressamos a casa. pelo caminho descascamos laranjas. e as caretas dos gomos azedos na boca eram motivo de riso - ao longe ainda se ouviam as rãs e nas galhas da laranjeira os pardais - estava muito calor. tiraste a boina e olhaste para trás: não te atrases rapariga - confesso-me distraída com uma borboleta amarela - em agosto levavas-me sempre a apanhar pinhas: vês. os pinheiros estão carregados delas. falta só um bocadinho de vento - e eu. perante a tua indignação. olhava para a copa dos pinheiros e soprava o mais que podia - tu rias muito alto e a avó vinha ao nosso encontro  -  às vezes. aborrecida. corria quelha abaixo: tio zé. tio zé       - e tu ouvias. percebias tudo. levavas a sério tudo o que te dizia. mesmo que não fizesse sentido. pegavas-me depois pelo braço e levavas-me a ver a tua mulher. a tua maria - dizias-me: vês a minha maria. todo o meu amor lhe pertence - e lembro-me dos seus olhos tão desertos. tão vazios. e nós ficávamos ali. tardes inteiras. a ouvi-la respirar - às vezes levantavas-te e ias pentear-lhe os cabelos. eu fazia-lhe bonitas tranças e encostava a minha cara à dela. tinha uma pele tão macia - outras vezes ficávamos só em silêncio. eu muito encostada a ti acabava por adormecer - quando a avó morreu estavas muito doente. abraçaste-me forte: ai rapariga. morreu-te a tua mãezinha - pouco tempo depois morreu a tua maria. abracei-te forte. segredaste-me: elas vêm buscar-me - e assim foi























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