terça-feira, 4 de novembro de 2014






ezgi polat











'Se partiste, não sei.
Porque estás,
tanto quanto sempre estiveste.


Essa tua,
tão nossa, presença
enche de sombra a casa
como se criasse,
dentro de nós,
uma outra casa.

No silêncio distraído
de uma varanda
que foi o teu único castelo,
ecoam ainda os teus passos
feitos não para caminhar
mas para acariciar o chão.

Nessa varanda te sentas
nesse tão delicado modo de morrer
como se nos estivesse ensinando
um outro modo de viver.

Se o passo é tão celeste
a viagem não conta
senão pelo poema que nos veste.

Os lugares que buscaste
não têm geografia.

São vozes, são fontes,
rios sem vontade de mar,
tempo que escapa da eternidade.

Moras dentro,
sem deus nem adeus.'

mia couto






estás no canto do sofá onde sempre te sentavas. sei dos teus aventais a secar no estendal debaixo do coberto. ouço as tuas pantufas arrastar na tijoleira. a tua tosse de madrugada. e aquele cheirinho a cevada fresca pela manhã. o doce de abóbora a fazer-se na panela mais funda. as galhas de eucalipto no jarrão da sala - nunca daqui saiste e. ainda assim. sei que em algum lugar teu corpo me espera - ao chegar à boca da quelha chamo por ti. o teu nome a enrolar-se na minha língua. até sufocar - valentina - avó - não ouvir-te dói - em dias de chuva sentavas-me no teu colo: nuvem dá-me água para eu dar ao vale. para o vale me dar erva. para eu dar à égua ... - e rias tão alto que as nuvens fugiam -  
























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