sexta-feira, 26 de setembro de 2014







eylül aslan











Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmos-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol
a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos
os amigos mais íntimos com um cartão de convite
para o ritual do Grande Desfazer: “Fulano de tal comunica
a V. Exa. que vai transformar-se em nuvem hoje
às 9 horas. Traje de passeio”.
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos
escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir
à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio.
“Adeus! Adeus!”
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento,
numa lassidão de arrancar raízes…
(primeiro, os olhos… em seguida, os lábios… depois os cabelos… )
a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se
em fumo… tão leve… tão subtil… tão pólen…
como aquela nuvem além (veem?) — nesta tarde de outono
ainda tocada por um vento de lábios azuis...
josé gomes ferreira















não sei se o silêncio existe para me lembrar de ti ou se eu própria o construo para me afastar do mundo - sei que em algum lugar me esperas com o corpo feito luz. e como uma nuvem dessas pequenas. passas tão rente à terra que às vezes julgo ouvir-te dizer o meu nome 





























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