sexta-feira, 14 de março de 2014





marija kovac










Escrevias pela noite fora. Olhava-te, olhava
 o que ia ficando nas pausas entre cada 
 sorriso. Por ti mudei a razão das coisas, 
faz de conta que não sei as coisas que não queres 
 que saiba, acabei por te pensar com crianças 
 à volta. Agora há prédios onde havia 
laranjeiras e romãs no chão e as palavras 
 nem o sabem dizer, apenas apontam a rua 
que foi comum, o quarto estreito. Um livro 
é suficiente neste passeio. Quando não escreves 
estás a ler e ao lado das árvores o silêncio 
é maior. Decerto te digo o que penso
baixando a cabeça e tu respondes sempre 
com a cabeça inclinada e o fumo suspenso 
no ar. As verdades nunca se disseram. Queria 
prender-te, tornar a perder-te, achar-te 
assim por acaso no meu dia livre a meio 
da semana. Mantêm-se as causas iguais 
 das pequenas alegrias, longe da alegria, a rotina 
 dos sorrisos vem de nenhum vício. Este abandono 
 custa. Porque estou contigo e me deixas 
a tua imagem passa pelas noites sem sono, 
está aqui a cadeira em que te sentaste 
 a escrever lendo. Pudesse eu propor-te 
 vida menos igual, outras iguais obrigações. 
 Havias de rir, sair à rua, comprar o jornal. 

helder moura pereira








por certo tocarás old madrid à varanda fazendo inveja a todos os homens que passam. ninguém na rua conhecerá o teu nome. o meu nome. o nosso amor. o desconhecimento é a maravilha de toda a primeira vez - entre livros e tabaco. assim te vêem os poetas. também tu escolheste ser árvore - queria para ti outro país. assim verde. assim mar. menos dor. menos esquecimento. a possibilidade de criar luz e esperança - queria para ti uma casa de nome próprio. janelas altas voltadas para o céu. pássaros ocupando ramos e a certeza que o éden existe como vida que nos espera do lado certo do amor.







Sem comentários:

Enviar um comentário