domingo, 12 de janeiro de 2014







laura makabresku 









falo contra as palavras que se esvaem, paro no meio de uma frase
e olho em volta, como se quisesse encontrar a palavra que me falta,
como se as palavras fossem objectos. E fica a minha voz
parada. Levanto a mão, a direita, frente aos olhos de quem me
escuta, abertos, tão grandes que desaparece neles a intenção. E procuro,
aflita. As pessoas perguntam-me: que tens?, e eu, calada,
a sentir uma bola na garganta, feita das palavras todas de que
não me lembro, tens bócio: diz-me o meu irmão: tens bócio
como a nossa mãe, de repente lembro-me de que nunca mais me lembrei de minha mãe,
e quero responder-lhe: não é bócio, são frases esquecidas,
são letras que não se juntam, às vezes,
os olhos dos outros param na minha boca,
inquirem o meu silêncio e esperam que eu fale,
e o silêncio aumenta,
até todo o meu corpo ser a falta de uma palavra,
começo então a suar, as mãos ficam viscosas, os lábios secos,
e eles continuam a olhar-me:
fala

rui nunes




de peito aberto. vivo - sei que me esperam dias tranquilos. o sossego das horas vagas. meses calmos. anos inteiros - algures no futuro serei mais um corpo sentado ao sol. de pernas estreitas. rosto ameno. cabelo já branco num penteado quase perfeito - estou certa que ouvirás as minhas histórias - tenho tanto para dizer. contar. esquecer. que à força das palavras a boca muda - e então o peito fechado. havia de me doer. tanto. tão forte. que grito - a vida é a certeza da morte - 






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