domingo, 5 de janeiro de 2014






ellen rogers 





De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

 vinicius de moraes




três tristes textos



foi natal - dos meus anos ao natal é um tiro no escuro - sabes como são as noites frias em dezembro. e a voz de quem queremos a chamar-nos para mais perto - se aqui estivesses. se aquele canto onde ninguém se senta fosse novamente teu. por direito ou dever todo o frio me esquecia - na casa não esquecemos nozes. nem figos. nem vinho. e os abraços que tardam são para mais tarde. quando as horas no relógio forem já um novo dia onde ninguém vive com medo do futuro - os teus passos em silêncio pela casa. e uma tosse insistente nos corredores - é como se ainda aqui estivesses - o teu corpo esteve morto no lugar da mesa de jantar. não há como não lembrá-lo. nenhuma noz. nenhum figo. nenhum vinho. nenhuma vida apaga a imagem do teu corpo esticado na sala. no lugar da mesa de jantar - 






diamantino. diamantino. de diamante puro. vestido de amarelo e branco - diamantino regressa da minha infância e vem de corpo esguio feito a mim - nenhum osso o cala. nem dizer o seu nome o devolve ao silêncio de um tempo que não volta. ainda que a memória persista - tinha mais anos que eu e reconhecia o meu cheiro a léguas de distância - vinha esperar-me à estrada quando voltava da escola. de corpo esguio feito a mim - quando estava triste e me sentava na erva. de pés pintados de verde a confundirem os olhos. diamantino vinha. com o pêlo muito armado. enroscava-se ao meu corpo e ali ficava. de respiração funda. à espera  - sei que partiste mas não te deixo morrer. sempre que estou triste pinto os pés de verde e fico à espera.






nenhuma palavra. ainda que dita em voz alta. te trará de volta - nem nenhum silêncio. nenhuma forma de encostar o corpo. de pedir um copo. de gritar com o mundo. de sentir-me só e sem jeito. nem peito. nem coração que bata. nem corpo que parta. nem nome que vá               ao teu encontro. 




























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