quarta-feira, 3 de julho de 2013

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mariam sitchinava









 «Vou contar uma história. Havia uma rapariga que era maior de um lado que do outro. Cortaram-lhe um pedaço do lado maior: foi de mais. Ficou maior do lado que era dantes mais pequeno. Cortaram. Ficou de novo maior do lado que era primitivamente maior. Tornaram a cortar. Foram cortando e cortando. O objectivo era este: criar um ser normal. Não conseguiam. A rapariga acabou por desaparecer de tão cortada nos dois lados.»

herberto helder




como uma sombra de nuvem atravessando os prédios. assim é o futuro - sei que existe um mundo novo lá fora. e quando abrir os olhos um mundo novo cheio de luz aquecerá o corpo - não quero abrir os olhos agora. é das trevas que faço casa - quando voltarem as estações frias atiro o corpo ao mar. quero morrer com os peixes. de sal na boca e escamas no coração - certas vozes gritam o pânico de não haver mundo e eu em silêncio. fico. talvez o mundo seja esta maneira de ficar. assim muda. sem dó nem si. nem de si dó - amanhã alguém morre de luz.