segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012











marie zucker









Engoli
água. Profundamente: a água estancada no ar.
Uma estrela materna.
E estou aqui devorado pelo meu soluço,
leve da minha cara.
O copo feito de estrela. A água com tanta força
no copo. Tenho as unhas negras.
Agarro nesse copo, bebo por essa estrela.
Sou inocente, vago, fremente, potente,
tumefacto.
A iluminação que a água parada faz em mim
das mãos à boca.
Entro nos sítios amplos.
— O poder de reluzir em mim um alimento
ignoto; a cara
se a roça a mão sombria, acima
da camisa inchada pelo sangue,
abaixo do cabelo enxuto à lua. Engoli
água. A mãe e a criança demoníaca
estavam sentadas na pedra vermelha.
Engoli
água profunda.

herberto helder









quase sempre só. nem limites o corpo encontra para a solidão - e o tempo que passa livre com os pássaros faz cobrir de neve as serras - tenho histórias para contar. coisas que ninguém ouviu. de corpos. de rostos. de bocas que me falam. só a pele viu - em algum lugar. sei. alguém me escuta - e é como se dissesse: água e um mar me entrasse nos orifícios do corpo - no futuro morrerei de água. ou fogo. ou terra. ou ar - talvez um quinto elemento me espere noutra vida com um final feliz.








*
à sandra
por me ler
sem que saiba










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