domingo, 22 de janeiro de 2012








katarina Šoškić










E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisa sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o pode duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer

ruy belo









por dias inteiros guio o corpo contra abismos. dias inteiros. cheios. tão só por dentro. tanto corpo preso. e os olhos escuros castigam a luz - eu quero gritar que os dias imensos são para ter fim. que a primavera chegue tão depressa que nem te dês conta. nem te lembres. ou recordes. e te importes - por mim passam os anos e a terra é a mesma. vinte mais quatro. ao tempo não restam dúvidas e em mim só incertezas - eu sei que existe outro lugar. mais calmo. onde a noite não chega. e a luz clara atinge tão forte os olhos. que cega. e cegos vão os rostos pelo mundo. sem medo dos outros. sem medo de mim - o que esperar da vida. memórias dos dias felizes que inventei.












terça-feira, 10 de janeiro de 2012



















Repito:

Entre a beleza funérea
E a pouca areia e água em que vejo afundar-se
A minha vida
Corre a extinta luz dum mundo
Já sem mundos.

E nessa cinza, como um desafio,
Consigo decifrar as pegadas de Antero
A caminho do supremo
Nada.


armando da silva carvalho








nós pensamos que em algum lugar estarão dois braços. dispostos em forma de casa. para receber o corpo quando cai. desnorteado. noite dentro - juro que sonhei que havia um corpo com dois braços capazes de segurar firmemente o caminho. ainda espero que a curva não se intensifique e que os dias. atrás de outros. voltem e sejam capazes de existir fora dos calendários. das datas de aniversários de alguns nomes próprios de que me esqueço quando o ano começa - tenho pouca esperança. confesso. de que serve a luta. um ou outro cabelo mais violento. um ou outro peito mais capaz. por agora o coração segue como morto. sem ouvidos que batam ou vozes que partam. só - atravessa o deserto acreditando que ainda existem oásis. desgovernado segue pelos sonhos com a alegria vaga de quem pouco alcança - espero um dia puder dizer aos meus netos: por este mundo eu lutei e nunca desisti.












terça-feira, 3 de janeiro de 2012











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adriano sodré





Espantado meu olhar com teus cabelos
Espantado meu olhar com teus cavalos
E grandes praias fluidas avenidas
Tardes que oscilam demoradas
E um confuso rumor de obscuras vidas
E o tempo sentado no limiar dos campos
Com seu fuso sua faca e seus novelos
Em vão busquei eterna luz precisa

sophia de mello breyner andresen









penso sempre que em algum lugar estarás à minha espera. tão longe vai o tempo. tão longas são as horas. que anos atrás de anos passam com os dias onde sei que me esperas - na pele crescem as noites. eu sempre acreditei . madrugada fora e ainda há tantas histórias pela casa. do corpo onde habitaste. dos cabelos que te viram partir - que amanhã nenhum verbo me devolva o teu rosto. ou me incomode o teu nome numa carta sem remetente. escrita na pressa de quem sabe que irá morrer - talvez um dia. quando as noites forem tão demoradas que fechar e abrir os olhos dure anos. que anos sejam tão longos que a vida custe muito. custe tanto que a morte seja o único alívio para todas as dores que o corpo conhece.