terça-feira, 25 de outubro de 2011



















elena kholkina








Se me cai a mão, o pé.
A atenção na água.
Penso: o mundo é húmido. Não sei
o que quer dizer.
Atravessar o amor do tejo é qualquer coisa
como não saber nada.
É ser puro, existir ao cimo.
Atravessar tudo na noite despenhada.
Na despenhada palavra atravessar a estrutura da água,
da carne.
Como para cantar nas barcas.
Morrer, reviver nas barcas.

As pontes não são o rio.
As casas existem nas margens coalhadas.
Agora eu penso na solidão do amor.
Penso que é o ar, as vozes quase inexistentes no ar,
o que acompanha o amor.
Acompanha o amor algum peixe subtil.

herberto helder








penso que talvez o mundo se dobre inteiro em si mesmo para ver passar o futuro. ou talvez seja dos meus olhos. cansados de ver passar as coisas - penso que tenho medo de deitar terra à boca. nenhuma palavra boa ali cresce. nenhum silêncio puro. nem nada. só a triste certeza de não haver nenhum papel meu no mundo da terra - acreditava que as árvores cresciam ao contrário. e o que pensavam serem folhas afinal eram raízes. e os ramos comiam ar. e o ar comia as árvores que secavam em tempo frio - também como eu as árvores viram partir o mundo. é por isso que o deserto não tem árvores. é seco como as terras quentes onde o mundo desaparece - quero dizer-te que ando triste. não por isto ou por aquilo. mas simplesmente por ser outono e chover. e eu adoro a chuva mas ainda não tive oportunidade de estar com ela - tenho andado tão serena e lembro-me de saber que partiste neste mesmo estar. quieta. porque amanhã é outro dia. e todos os dias são amanhã no futuro. se acreditarmos nele -














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