sábado, 21 de maio de 2011





































e eu que sou louco, um pouco, não ao ponto de ser belo ou maravilhoso
ou assintáctico ou mágico, mas:
um pouco louco,
porque faço com mãos estilísticas um invento fora e dentro dos estados
naturais:e a faúlha e o ar à volta dela, jóia, digo, quero-a de repente,
e as matérias maduras e dramáticas: ouro, petróleo:
e com que potência madibular me debruço sobre o prato,
e ávido e inculto,
com mão aprendiz côlho o áspero alimento do mundo,
e rosto, membros, torso, radiações dos dedod,
trabalho no meu nome,
obra pequena de hemoglobina, enxôfre, células, osso, lume,
para estar mais perto de quem acaso me chame ou toque
---- eu,
sem beleza nem maravilha,
só dor,
desamor ou descuidada memória ----
mas mr conheça por isso que não é bem música,
talvez sim um som
dificílimo, sêco, acerbo, rouco, côncavo, precaríssimo
de apenas consoantes,
pregos



herberto helder







aquele louco sorria. a pele cabia-lhe exactamente no corpo. tremia. os olhos eram cinza escuro quase preto. não havia céu e o silêncio absurdo. nas pernas. nos pés nus. quietos no asfalto. - olha para mim - a cidade foge-lhe. nenhum rosto o encontra. só o tempo o espera do outro lado da estrada. os loucos também têm memória. o cabelo era a reentrância do espanto. - quando anoitecer. se anoitecer. levo-te para casa. e olhavas para mim sem nome. como todos os loucos.












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