domingo, 17 de abril de 2011





















No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a.olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho... )
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

álvaro de campos









é água o que bate no lugar do coração e em vez do peito o mar. tu sabes da infância as cores. púrpura flor. azul rio. branco pele. verde. muito verde erva. castanho terra. quando nos sentávamos em nuvens a guardar as casas. animais tristes à sombra de árvores altas. choramos muito. os dias atrás de outros vieram cedo. o corpo cresceu. grandes pernas e braços agora presos a um pequeno tronco. a boca fechou-se. mordeu todos os nomes e histórias que ouvira. os rostos que amamos passam por nós como terra que o vento teima em levar. muitos morreram. se fomos felizes não sei. em algum momento nevou. subimos à serra. e o branco pele frio ficou. se fomos felizes não sei. sabe-o deus. se deus houver. pelo teu aniversário subias árvores. comias castanhas. choravas nuvens. e ninguém sabia.














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