sexta-feira, 4 de março de 2011















A incerteza cai com a tarde
no limite da praia. Um pássaro
apanhou-a, como se fosse
um peixe, e sobrevoa as dunas
levando-a no bico. O
seu desenho é nítido, sem
as sombras da dúvida ou
as manchas indecisas da
angústia. Termina com a
interrogação, os traços do fim,
o recorte branco de ondas
na maré baixa. Subo a estrofe
até apanhar esse pássaro
com o verso, prendo-o à frase,
para que as suas asas deixem
de bater e o bico se abra. Então,
a incerteza cai-me na página, e
arrasta-se pelo poema, até
me escorrer pelos dedos para
dentro da própria alma.
nuno júdice







as flores nascem. nos muros. no coração. no teu rosto as flores adormecem o frio. tenho saudades tuas. de me dizeres que o tempo é feito de estações. de me esquecer dos meses. é março. sei-o tão bem. há três meses que partiste. ainda perto os sinos dobram. tenho saudades dos teus olhos. tristes. olhos. dois pequenos e vivos olhos. os teus. a última vez que te vi tinham-se fechado. chegou a altura dos pássaros. vêm com o vento. cheios de penas. ainda não vi andorinhas mas devem estar para chegar. talvez aquela volte a fazer ninho no telhado da casa. talvez não volte. talvez seja só o meu coração a doer. as memórias doem. gostava de te ter fotografado mais.de pé à porta de casa ajeitavas o avental. o cabelo curto branco para trás. sorrias. gostava de te ver sorrir mais.








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