domingo, 26 de dezembro de 2010



















Não sei como vieste,
mas deve haver um caminho
para regressar da morte.
Estás sentada no jardim,
as mãos no regaço cheias de doçura,
os olhos pousados nas últimas rosas
dos grandes e calmos dias de setembro.

Que música escutas tão atentamente
que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
que tudo canta ainda?

Queria falar contigo,
dizer-te apenas que estou aqui,
mas tenho medo,
medo que toda a música cesse
e tu não possas mais olhar as rosas.
Medo de quebrar o fio
com que teces os dias sem memória.

Com que palavras
ou beijos ou lágrimas
se acordam os mortos sem os ferir,
sem os trazer a esta espuma negra
onde corpos e corpos se repetem,
parcimoniosamente, no meio de sombras?

Deixa-te estar assim,
ó cheia de doçura,
sentada, olhando as rosas,
e tão alheia
que nem dás por mim.


eugénio de andrade











bonjour tristesse











e o teu lugar será o mesmo. de sempre. a mesma casa. o mesmo colo. a minha cara alegre. embora recordar-te seja como abrir os olhos ao vento ou perder os cabelos nas primeiras manhãs de inverno. estou triste. mas poderia não estar se tu estivesses. se por um momento aqui voltasses. e no mesmo lugar de sempre. o sorriso posto na pele. é domingo. decerto lembrar-te-ás que aos domingos faz frio deste lado da varanda. onde bate mais o vento. e o coração. esse pedaço de noite. bate. tão dentro do corpo ainda te espero como da primeira vez. quando vinhas com os braços murchos. e foram tantas eras a cobrir-te de muros. foram tantas vidas. estou triste. talvez amanhã não choro. não to posso prometer. talvez mais tarde no corpo morto não te recorde. agora não.










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