sábado, 23 de outubro de 2010
































Se tens um coração de ferro,
bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne,
e sangra todo dia.

josé saramago

















E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter. Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água do rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogamos o seu sentido. Nisto eu acredito: na verdade destas coisas sem princípio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos. (…)Porque nada é mais íntimo e mais indestrutível do que o silêncio partilhado. Tudo o resto são apenas palavras, sons, frases, coisas que qualquer um pode dizer. (...) Mas o silêncio fica porque nunca mente, porque é tão íntimo que não pode ser representado, é tão envolvente que não pode ser rasgado. (...) Nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrem os pensamentos vividos em silêncio. Um amor feliz precisa do turbilhão das palavras, das frases aparentemente inúteis e sem sentido, precisa de adjectivos, de elogios, do ruído das banalidades. Não há felicidade que não seja tantas vezes fútil, tantas vezes inútil.

miguel sousa tavares







nunca soube, não, existir. tudo ou se perde ou se mata. e quando penso nisto, volto. talvez os lugares não existam e as lágrimas esperem debaixo dos olhos. e talvez quando os olhos forem capazes de chorá-las todas, talvez então tudo faça sentido e a vida não seja tão deserta. por enquanto talvez tenha de continuar assim, com esta pedra no peito. o coração, nem sempre sei por onde vai, quando corre ou foge. nem sequer sei se existe. bem, debaixo da pele alguma coisa andará à procura das tuas mãos, disso eu sei e estou certa.














































Sem comentários:

Enviar um comentário