quinta-feira, 27 de agosto de 2009

#267



se conseguisse escrever a ternura do teu olhar pai, o aconchego.



poema à minha mãe:

mãe
há duas coisas que preciso dizer-te

entre a chávena repousas a mão
fria a mão, a tua, a que te amputaram à nascença.
o cotovelo gasto preso ao pó da mesa,
longe do braço,o teu, o que nunca foi perto.

há duas coisas que preciso dizer-te
mãe

duas mortes são o teu pequeno almoço
bem como um assalto à mão armada.
notícias da tua manhã, nossa.
ainda estás longe.

mãe.

tu gritas
tu levantas a mesa
tu choras um pouco
tu foges à pressa

mãe
há duas coisas que preciso dizer-te

a rua a servir de casa aos teus pés desesperados
fracos os pés, os teus, os que agora se encostam à berma.
a mão repousa ainda sobre o teu peito,
fria a mão, a tua, a que te amputaram à nascença.

grito: mãe. eu vou embora e não volto.

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